quinta-feira, 3 de janeiro de 2013


Inimigo íntimo – Parte 1.


Para vencer seu inimigo, junte-se a ele antes.


Quem diria que uma depende da outra não?

Feliz ano novo! E para começar mais um ciclo, vou começar explicando a relação que se mantem entre a Kyosho e outras marcas. Sim! Apesar do título, ele não é autoexplicativo, pois o que se nomeia “inimigo”, aqui não tem a mesma conotaçã. Pode até parecer simples, mas é um pouco mais intrínseco do que você está imaginando. E é aqui que uma marca inimaginável tem um papel fundamental para que as miniaturas da Kyosho, sobretudo da escala 1:64 estejam entre nós. Estamos falando da Mattel e seus Hot Wheels. Não entendeu nada? Vou explicar agora.
Já é sabido mundo afora que o mercado japonês é uma fonte quase inesgotável de bons resultados de venda de produtos, seja ele qual for, porém para isso, é necessário boa gestão e uma estratégia acertada, para conseguir um público fiel e ávido. Com uma cultura tão distinta e diferente, é necessário estudar e pesquisar bem os costumes e gostos para que o produto que seja lançado e comercializado em terras nipônicas não seja um fiasco. Isso custa dinheiro, e mesmo com elevados gastos e pesquisas, nenhum investimento garante a certeza de sucesso de vendas. Então, como vender para um público que não conheço, sem gastar muito e acertar a mão de primeira? Fácil! Arrume um parceiro local.
É ai que a história da gigante americana e japonesa se fundem e definem rumos até improváveis. A Mattel precisava de um parceiro para expandir a venda da marca Hot Wheels de forma correta e ao gosto japonês.  Na época (final da década de 90, início dos anos 2000), a Kyosho, gigante dos R/C mundo afora ainda não tinha uma linha completa de modelos diecast, principalmente na escala 1:64. Foi feita a união. A Kyosho administra, distribui e propaga a venda da marca Hot Wheels em território japonês, ganha um trocado para isso, e consegue que a marca se torne um sucesso fenomenal na terra do sol nascente. Vale aqui um destaque: marcas consagradas locais, como a Tomica, não poderiam ser o parceiro ideal da Mattel, pois mesmo que entendessem o produto, poderiam ameaçar o próprio negócio ou não tornar o produto do aliado viável. É por esse conjunto de fatores que a Kyosho foi escolhida a dedo: administradora hábil, mas que não possuía um produto rival em sua linha.

O que era um contrato comercial se tornou uma oportunidade empresarial.

Contudo, o que seria uma aliança perfeita, mas de lucro quase unilateral se transformou com o passar dos anos. Os japoneses aprenderam bastante sobre o ramo de diecast, e como aconteceu com seus radio controllers, perceberam falhas que colecionadores e aficionados não toleravam. Os erros da Mattel se tornaram a chave para que a multinacional japonesa visse a oportunidade de criar um novo produto.
Comentei no post passado que a linha 1:64 se iniciou em 2002. Algum tempo havia passado desde a Kysoho, sob licença da Mattel, vende-se seus produtos no oriente. A fama e produtividade criou fama entre as outras empresas, e gigantes como Ixo, Autoart e Minichamps seguiram o exemplo da Mattel e também pediram para que a Kyosho administrasse e vendesse seus produtos no Japão. Ai, caro colecionador, não dá né? Tanta gente te pedindo para vender algo que você tem capacidade de vender e fazer igual, ou melhor... O óbvio aconteceu: a Kyosho desenvolveu sua própria linha diecast nas escalas mais colecionadas.
Mas engana-se que foi tudo flores ou perfeito para a fabricante japonesa. Procurei essa informação, mas não consegui um fato concreto. Mas as pistas levam a crer que os contratos firmados entre as empresas tinham regras mais “maleáveis”, e que ambas as partes se beneficiaram. Seria uma espécie de “acordo entre cavalheiros”, e ambos cederam certos tesouros que só as grandes multinacionais possuem.
O maior exemplo é o caso envolvendo o licenciamento da Ferrari. É sábido entre os colecionadores diecast que a Mattel, sob sua marca Hot Wheels, é a única que pode produzir e fabricar modelos da marca, principalmente na escala 1:64. Esse contrato tem lei específicas, que garantem que a única que pode produzir modelos nessa escala é a Mattel, e em outras escala, sob licença direta da Ferrari em conjunto com a Mattel. Então, como a Kyosho faz modelos da casa de Maranello? A Kyosho é representante principal na reprodução em miniaturas de modelos das marcas Nissan e BMW. Como é que a Mattel produziu seus Skylines e BMW Serie 3? Como a Kyosho é a única fabricante a produzir modelos da Casa de Maranello?


Difícil imagina que o Skyline "americano" só existe por causa de seu "primo japonês".

Aí foi o “pulo do gato” entre as marcas. Cada uma cedeu o que tinha de interessante, em troca de tecnologia e outras exclusividades que a parceira possuía, mas com certas regras a serem cumpridas, tanto para evitar uma disputa entre as parceiras, como para manter seus contratos de exclusividade com montadoras e marcas. Aí o fato de toda a Ferrari produzida pela Kyosho ser “desmontada”, uma espécie de plastimodelismo para iniciantes. A regra entre a Ferrari e a Mattel é que só ela produziria miniaturas diecast em formato 1:64. Não se fala no contrato sobre “plastimodelismo” ou “miniaturas para montar” na mesma escala. Montem o quebra cabeça e vocês entenderão o recado.
Como isso ocorreu e de que forma isso interferiu nas linhas de produção de ambas as marcas, é papo para a nossa segunda parte.
Das de uma coisa, é certa. Sem a Mattel, a Kyosho não estaria entre nós. Estranho não?            

Fonte de Imagens: Blog The Lamley Group e diecastlife.blogspot.com

2 comentários:

  1. Muito interessante.Não tinha ideia que a Mattel já tinha trabalhado com a Kyosho.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pelo que entendi, ainda trabalha, mas agora só com séries especiais. Se você acessar a página japonesa, eles ainda vendem modelos da HW em sua página. #impressionante

      Excluir